Trilha Sonora
‘Photograph’ – Nickelback
http://letras.terra.com.br/nickelback/259804/traducao.html
- Você era um pirralho engraçado, Nick!
- Eu era mesmo, um pestinha também. Espero que a Cassie se pareça mais com você nesse ponto.
Enquanto Nickolas terminava de se arrumar, Alicia olhava as fotos que ele guardava em uma caixa junto com alguns papéis antigos e bonecos pequenos, quebradinhos, mas que deveriam ter um grande valor emocional pra ele.
Quando Nick disse que mostraria pra ela algumas coisas legais que ele tinha guardado, Aly jamais imaginou que seriam coisas tão íntimas e inusitadas, as fotos eram até uma coisa que ela esperava que ele guardasse, mas aqueles brinquedos a deixaram realmente intrigada... Talvez ela precisasse aprender muitas coisas sobre aquele homem e pelo jeito, teria tempo para isso.
Já havia passado uma semana daquela entrada inesperada dele no seu apartamento e desde então Aly não havia mais perdido ele de vista um dia sequer. Alicia ficava entre a felicidade e o medo, afinal de contas quantas vezes aquela situação já havia acontecido? E com a proximidade de uma sexta feira, era bem provável que mais uma vez ele desaparecesse sem maiores explicações, mas pra surpresa maior ainda de Aly ele não só ficou com ela como preparou um jantar na casa dele, cheio de cuidados pra que ela não comesse nada que desse enjôo ou que estivesse fora da dieta passada pela médica.
A noite havia sido perfeita, ele parecia verdadeiramente feliz, quando falamos de Nick Carter. Agora enquanto ele terminava de vestir aquele terno tão perfeito, parecia que as coisas sempre haviam sido fáceis, que eles seriam uma família feliz, quase como um comercial de margarina. Bom, talvez uma família de comercial moderno de margarina, onde os pais não moram juntos e o marido às vezes da uma pulada de cerca.
O fato é que ver aquelas fotos de um Nickolas tão novinho, tão inocente, fez com que ela desejasse estar na vida dele há muito mais tempo, há tempo de concertar o que agora não tinha mais concerto.
- Como teriam sido as coisas se eu tivesse conhecido você nessa época?
Nick sentou do seu lado e pegou a foto que ela segurava: ele, os pais e os irmãos sorrindo e provavelmente voltando de algum dia de passeio dos Carters.
- Provavelmente nós teríamos nos afastado algum tempo depois. Minha vida virou uma loucura depois que virei um bsb...
- É talvez...
- Por quê? Você tem alguma outra sugestão?
- Não vamos brincar de faz de conta agora, você vai se atrasar pra grande noite.
Os Backstreet Boys iriam receber uma homenagem por sua contribuição para música pop, uma festa cheia de mulheres dispostas a dormir com ele, era só nisso que ela conseguia pensar, não queria, mas era inevitável.
- Você não quer mesmo ir comigo?
- Não Nick, eu vou sair com o Max pra jantar e depois vamos pegar um cinema.
Aly esperou ele sair e ficou mais um tempo curtindo a cama dele. Aquele quarto era tão... ele! A casa toda tinha o jeito dele, o cheiro dele, mesmo ele passando grande parte da sua vida em hotéis pelo mundo havia conseguido manter um lugar pra dizer que era dele e quem realmente o conhecia, percebia.
- Melhor eu sair logo antes que desista e fique aqui só pensando no seu pai, Cassie.
Logo depois ela já estava no shopping com Max, não havia alguém mais indicado pra fazer com que ela desse boas risadas.
- Como vai a vida amorosa?
- Na mesma. Alguns gatos, muitas festas, mas nada de muito sério. Os gays são tão canalhas quanto os héteros na maioria das vezes. E você como anda com aquele bofe lindo?
- Do mesmo jeito também.
- O que não quer dizer nada, não é Alicia? Vocês dois vivem em pé de guerra, eu já teria morrido de úlcera nervosa.
- Exagerado! Nós estamos bem, ontem ele fez uma janta ótima pra mim na casa dele.
- E hoje...?
- Hoje ele tinha uma premiação pra ir com o resto da banda.
Aly deu de ombros.
- Hum... É isso que mata você, não é?
- O que?
- Essa incerteza do que vai acontecer logo depois. Acho que isso preocupa muito mais do que as eventuais escapadinhas que ele possa dar.
- Eu nunca analisei por esse lado.
- Você deveria ir um psicólogo, esse relacionamento tem que ter acabado com metade da sua sanidade.
- Antes fosse só a metade! Tenho certeza que já fui alguém mais sensata, só não me lembro como era ser assim.
Depois da janta e de um bom filme, eles foram comprar algumas roupas pra Alicia. Parecia que a cada dia ela perdia uma peça de roupa, precisava de coisas novas, roupas, cremes, e Max a convenceu de levar umas lingeries também. Segundo ele, alguém que tinha a honra de freqüentar com certa assiduidade a cama de Nick Carter precisava sempre de lingeries novas.
Enfim, a noite havia passado mais rápido do que ela imaginava, mas não tão boa quanto ela gostaria. Assim que chegou ao seu apartamento com várias sacolas nas mãos, quase se arrependeu por não ter ido à premiação com Nickolas. A verdade é que ela ainda vinha evitando aquele tipo de exposição, não fazia parte de quem ela era aquele mundo e não queria enfrentar olhares curiosos e muito menos os duvidosos, preferia deixar tudo pra quando fosse realmente necessário, mas sabia que não demoraria muito. Ela não tinha uma vida pública, mas o pai da Cassie tinha e gostava daquilo.
Aprender a conviver com as fãs dele, com a vida pública dele seria necessário, até mesmo pra Cassie poder se sentir mais segura quando eventualmente ele não estivesse com as duas e ela fosse abordada por alguém. Eram tantas coisas pra pensar, pra começar a aceitar que ela nem ao menos havia começado a perceber. Algumas pessoas poderiam achar que era fácil estar com Nick Carter, mas não era, em nenhum sentido.
Antes de dormir, Aly arrumou tudo que havia comprado para ela e a filha no quartinho, e estava tão exausta que sequer ouviu quando o celular tocou com uma mensagem do Nick:
‘A premiação estava ótima e agora tô aqui na festa com pessoas estranhas que não parecem muito interessadas na minha empolgação em ser pai. Onde vocês estão? Saudades. Amo vocês’
Foi uma boa maneira de começar aquele sábado ensolarado, como já não acontecia a um bom tempo, ela acordou com uma mensagem dele e uma sensação de dejávu foi quase inevitável. Um bom psicólogo com certeza seria capaz de lhe dizer um ótimo tratamento porque aquele hábito de viver ciclos repetitivos ao lado dele só poderia ser um caso de laudo médico.
‘Eu e Cassie tivemos uma noite tranqüila, com direito a muitas compras. Também sentimos sua falta e amamos você. ’
Já que a janta na sexta havia sido com Max, nada mais justo que almoçar com Lilly. Continuar a fazer coisas que eventualmente não envolvessem Nickolas poderia ser bem saudável, e ela não precisava de nenhum psicólogo pra lhe dizer aquilo.
- Quer dizer então que você saiu em uma sexta feira à noite com o Max enquanto o Nickolas estava em uma premiação. Sério, Alicia? Sério que você fez isso?
Aly rolou os olhos.
- Porque você sempre leva todas as coisas pro lado negativo, Li?
- Não amiga, eu sou realista, é diferente. E logo com o Max? E eu, sua melhor amiga fiquei de fora?
- Ah! Então é esse o problema? Como você é boba. Sexta feira a noite não é dia de chamar amigas casadas pra jantares.
- Mais um motivo pelo qual você deveria ter me chamado: meu marido também é seu amigo.
Lilly e Alicia foram almoçar no restaurante favorito delas, como não faziam há muito tempo. Honestamente falando, Aly sentia falta daqueles momentos em que era só ela mesma, sem preocupações.
Às vezes ela tinha a sensação de estar perdendo a essência de quem verdadeiramente era naquela confusão que sua vida amorosa havia se tornado. Muitas vezes ela tentava lembrar os dias em que Nickolas não fazia parte do seu dia a dia e que ela considerava ser de uma felicidade plena.
Aly era uma mulher comum, uma menina comum. Muitas vezes tornar-se mulher não estava ligado a idade ou ao fato de se ter ou não uma vida sexual, tornar-se mulher era muito mais parte de um momento, um alguém que chegava e mudava o que se é por dentro. Nick havia transformado Alicia na mulher que ela era hoje, com seus defeitos e acertos.
- Como estão os seus pais? Já aceitaram totalmente essa família maluca que você e o Nick estão construindo?
- Não é uma família maluca, só não vai ser tradicional como a minha é, por exemplo. Acho que meus pais estão lidando melhor com essa situação. Na verdade acho que todo mundo está pensando mais na chegada da Cassie do que qualquer outra coisa...
- Inclusive você, não é?
Aly deu de ombros.
- É, não tem muito, além disso, a ser feito. Lilly, por favor, eu só quero um sábado descontraído, sem muito Nick Carter no meio. Hey, quando sairmos daqui vamos comprar algumas maquiagens novas pra mim.
- Ok, nós vamos. Mas Aly, eu só quero ajudar você. É sério, tenho medo dessa maluquice toda... Tem tantas coisas que você vai ter que lidar depois que a Cassie chegar. Assim que a imprensa souber que ela nasceu, a vida de vocês vai se tornar um livro aberto! Nick Carter vai ser pai, isso vai enlouquecer meio mundo...!
- Eu sei... Eu tenho pensado nisso também, mas também não tem o que ser feito agora! Não posso e mais do que isso, eu não quero sofrer por antecipação, por tanto nós vamos sim, falar besteira e comprar maquiagens.
Fugir dos olhares preocupados da amiga não foi uma tarefa tão fácil quando Alicia pensou que seria. Lilly tinha razão em tudo que tinha dito, mas dessa vez Aly só queria ser um pouco irresponsável e não pensar em nada.
- Finalmente vocês duas chegaram!
- Como você é exagerado, Nickolas.
Nick deu um beijo nela e um na já saliente barriga.
- Você fala isso porque passa o tempo todo com a Cassie e eu só posso ficar com ela quando você quer.
- E não tem outro jeito, meu bem, então me vê água porque sua filha está com sede.
Por um momento, sentada na sala enquanto esperava por Nick, Aly pensou que ali seria um bom lugar pra ela morar. A casa era bonita, grande, mas mais do que isso, ela conseguia sentir que realmente era um lugar pra se chamar de lar. Talvez fosse mais fácil criar Cassie com ele por perto sempre...
- Aly?! Hey Alicia! Acorda! Ta tudo bem?
- Desculpa, tá sim.. Eu só estava pensando.
- Posso saber no que?
- Em como vai ser nossa vida daqui a uns meses. Hoje a Lilly conversou um pouco comigo sobre fãs, imprensa... Essas coisas que eu fico apavorada só de pensar.
- É tão horrível assim estar grávida do Nick Carter?
- Nickolas, eu tô falando sério.
- Eu sei, mas não gosto quando você fala muito sério. Um sorriso fica muito melhor em você. Aly. E eu já disse que você não precisa ficar preocupada com isso, dessa parte eu vou cuidar. Você confia em mim?
Por mais insegura que pudesse estar, porque a verdade era que ela estava insegura, não havia no mundo um par de olhos que pudesse acalmá-la mais. O simples toque daqueles dedos suavemente segurando suas mãos era capaz de transformar em fumaça todo medo.
- Eu confio.
Como eles passavam de um momento simples pra uma atração física em segundos era mais um dos fatos que ela jamais entenderia, e quando percebeu estava nos braços dele, segura, completa, sendo quem ela verdadeiramente era.
Foi mais que sexo, foi como se ele quisesse provar com um ato que Alicia poderia confiar nele, que ele seria um porto seguro pra ela e pra filha, sempre.
Ele investia dentro dela com movimentos suaves, torturantes, profundos, sem nunca desviar os olhos do rosto dela, que respirava ofegante e tentava compreender todas as mensagens silenciosas que estavam sendo ditas ali.
- Eu te amo, Nick.
Antes mesmo que ela pudesse raciocinar as palavras haviam sido ditas, saíram facilmente, como quem quer ganhar vida, como se estivessem presas dentro dela. Nos olhos dele um misto de surpresa e satisfação, não bastava saber que ela o amava, ouvir aquelas palavras naquele momento era uma rendição.
- Aly...
Ela colocou um dedo sobre os lábios dele, nada que ele tivesse pra dizer iria soar tão verdadeiro quanto o que ela podia ver naqueles olhos azuis a todo instante. Nick até amava Alicia, mas não da forma que ela desejava, ele a amava da forma dele e por mais que doesse, tinha que servir.
Não havia espaço pra arrependimentos naquele momento em que eles eram capazes de alcançar uma espécie de paraíso juntos, enquanto os dois corpos suados repousavam e o coração pulsava em um mesmo ritmo.
Alicia não sabe precisar quanto tempo eles ficaram deitados no sofá, iluminados só pela penumbra da noite, mas foi o suficiente pra ela adormecer em paz, completamente relaxada.
Quando acordou, sentindo fome e um pouco de sono, Nickolas ainda dormia profundamente. Ela procurou não fazer barulho enquanto abria a geladeira atrás de alguma coisa que pudesse comer e não fosse muito pesada pro horário. Não precisou de muito tempo, a geladeira do Nick andava mais saudável que nunca.
- Hum... Acho bem atraente uma mulher nua mexendo na minha geladeira.
Aly pegou um iogurte e fechou a geladeira.
- Eu posso dizer que um homem bonito me dizendo isso também é sempre atraente.
- Sempre? Quer dizer que eventualmente alguém diz isso pra você?
- Eventualmente...
- Vem aqui, engraçadinha. Preciso conversar com você.
- É uma notícia que eu vou preferir ouvir vestida ou assim mesmo?
Nickolas olhou pra ela dos pés a cabeça, era quase como estar em uma máquina de raio-x.
- Tudo bem, acho melhor nós usarmos alguma roupa pra que eu consiga me concentrar melhor.
Aly ficou imaginando o que ele precisava contar pra ela e que o estava deixando tão nervoso, ele estava tentando demonstrar naturalidade, mas dava pra perceber uma ruga bem no meio de sua testa.
- Pronto Nick, eu já estou vestida e alimentada, pode me falar o que tá deixando você tão preocupado.
- Eu tô parecendo preocupado?
- Um pouco.
Ele respirou fundo. Aly começou a sentir um pouco de medo. Será que mais uma vez alguma coisa interromperia os seus dias de paz?
- Fala logo Nickolas, eu tô ficando nervosa!
- Calma, não é nada demais... Eu é que fico... Não sei, não me sinto confortável quando o assunto é meu pai ou minha mãe, mas dessa vez eu não tive como escapar. Minha mãe nos chamou pra um final de semana com ela na Flórida.
Nick falou tudo como se fosse um grande pedido de desculpas, mas Aly não pode evitar uma careta.
- Eu sei, parece horrível, não?
- NÃO! Nick, não fala isso. Como um final de semana com a sua mãe pode ser algo terrível?
Ele sorriu, mas em nada aquele som parecia ser de alguém feliz.
- De muitas formas quando se trata da minha mãe.
- Bobagem! Quando nós vamos levar a Cassie pra conhecer a outra vovó?
- No próximo final de semana.
- O QUE?
- Desculpa Aly, mas é um dos poucos finais de semana que eu tenho totalmente livre, depois tenho algumas reuniões, músicas pra terminar... E ela insistiu tanto.
- Tudo bem, Nick, eu só estou surpresa. É melhor que a gente vá logo, não é? Daqui a pouco um avião não vai ser o melhor lugar do mundo pra mim.
Ele mal conseguia encará-la, era visível que era uma situação da qual ele queria mais do que ninguém não precisar enfrentar.
- Nick, nós vamos juntos, vai ser divertido, você vai ver. E há quanto tempo eu não vou pra Flórida! Hum? Vamos, tira essa cara de preocupação e me de aquele sorriso lindo que me deixa tão feliz.
- Obrigada por ser tão compreensiva, Aly. Prometo que você não vai se aborrecer com nada durante esse final de semana.
Alicia não falou mais sobre o próximo final de semana durante aquela noite, mas estava muito nervosa. Nick nunca falava muito sobre a relação dele com os pais, ela sabia que eles estavam separados há muito tempo e Jane morava agora com seu novo marido.
Ele sempre falava da mãe com um resquício de mágoa, mas ela nunca havia perguntado o motivo e talvez nem ele soubesse o porquê ou sequer percebesse isso, era um sentimento muito disfarçado, escondido.
No dia seguinte, enquanto almoçava na casa dos seus pais, Alicia contou pra Anne sobre a programação do próximo final de semana.
- Minha filha, o que tem de errado em ir conhecer a mãe dele?
- Eu não sei...
Enquanto falava, Aly observava Nickolas conversando com Charlie do outro lado do jardim, tão à vontade, e lembrou os dias em que nem no seu pensamento mais fértil imaginaria aquela cena transcorrendo de forma tão natural. Seria possível que fosse assim com ela também?
- Se ele tem alguma situação mal resolvida com a mãe isso não muda em nada o amor que ela vai sentir pela neta e você é a mãe da Cassie, ela já deve amá-la só por isso.
- Mãe, não precisa exagerar!
- Não é exagero, é realidade. Duvido que ela vá ser grosseira com você, filha.
- Eu espero que não, mas essa apreensão toda do Nick em ver os pais me deixa com os nervos em frangalhos!
- E você já disse isso pra ele?
- NÃO! Estou dizendo que a idéia da mãe dele foi ótima e que nós vamos passar o melhor final de semana do mundo.
- Alicia, você precisa parar de esconder as coisas dele, sabia?
- Eu sei, mas é só pra ele ficar mais calmo também... Do que vai adiantar nós dois preocupados, indo viajar como se fossemos enfrentar um monstro e não a avó da minha filha?!
E foi isso que ela repetiu pra si mesma durante toda aquela semana e quando finalmente pegou o avião ao lado dele, que parecia mais apreensivo do que nunca, Alicia quase conseguiu acreditar que aquela seria a primeira viagem de férias perfeita em família. Quase.